A zona lunar da personalidade é esta zona noturna, inconsciente, crepuscular de nossos tropismos, de nossos impulsos instintivos.
É a parte do primitivo que dormita em nós, vivaz ainda no sono, nos sonhos, nas fantasias, na imaginação, e que modela a nossa sensibilidade profunda.
É a sensibilidade do ser íntimo entregue ao encantamento silencioso de seu jardim secreto, impalpável canção da alma, refugiado no paraíso de sua infância, voltado sobre si mesmo, encolhido num sono da vida, - senão entregue à embriaguez do instinto, abandonado ao transe de um arrepio total que arrebata sua alma caprichosa, vagabunda, boêmia, fantasiosa, quimérica, ao sabor da aventura".
Chevalier e Gheerbrant, Dicionário de Símbolos
José Olímpio Editora, RJ.
Adentrando a dimensão simbólica da Lua em civilizações remotas e em inúmeras culturas, podemos dizer que ela foi adorada e cultuada de diferentes formas, sempre evocando o princípio materno e feminino, imagem do arquétipo da Grande Mãe. Entendemos que a crença de que há uma conexão bastante peculiar entre a mulher e a Lua tem sido universalmente mantida, ou, dito de outro modo, essa foi uma experiência humana arquetípica, projetada na Lua física do céu.
Em termos mitológicos, a Lua é a representação da Grande Deusa ou Grande Mãe, patrona da fertilidade, concepção e crescimento, tanto na vida vegetal, quanto animal ou humana. Como Ártemis da antiga Grécia, ou Ísis do antigo Egito, ou Shakti da cosmologia hindu, deusas mães ou divindades lunares regiam, além do ciclo anual da vegetação, o ciclo humano do nascimento, da vida e da morte.
Diz Jung sobre o arquétipo materno:
"Como todo arquétipo, o materno também possui uma variedade incalculável de aspectos. Menciono apenas alguns (..) a própria mãe, avó (...), a deusa, a Mãe de Deus, a Virgem, (...) a Igreja, a Universidade (...), o Céu, a terra, a floresta, o mar, as águas quietas, o subterrâneo, a Lua. No sentido mais restrito, o lugar do nascimento, a concepção, o jardim, a gruta, a fonte, o poço"
Um fator relevante no que diz respeito a essa simbologia lunar é a compreensão deste arquétipo ou divindade com duas faces distintas. Além de mães provedoras, tinham também seu lado sombrio, pois, com seu poder, as colheitas poderiam secar ou as tempestades poderiam causar inundações e morte.
Esta relação pode ser compreendida a partir das variações do ciclo da lua no céu, ora crescendo, ora minguando. A Lua nova era comumente relacionada à magia, encantamentos e à deusa grega Hécate. A Lua crescente em sua forma aberta representa a delicadeza virginal, a promessa do vir a ser, era relacionada à Perséfone, raptda por Hades.A Lua cheia, tem a aparência de gravidez, redonda e madura é o poder máximo da Lua, relacionada à deusa da fertilidade Deméter, mãe de todos os seres vivos .
Esta relação misteriosa com o feminino também está presente nos contos folclóricos, dos lobos e vampiros metamorfoseados na lua cheia, na relação com a loucura, com rituais mágicos, na feitiçaria – todas essas fantasias e mitos relacionam-se ao mundo lunar, o mundo noturno e obscuro das emoções humanas, sejam elas o amor, a loucura ou a magia.
No xamanismo, animais noturnos são também a representação deste poder feminino lunar, tais como o lobo, o urso, a coruja, o puma.
FONTE: Tereza Kawall
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