A idéia de uma Deusa costuma nos parecer estranha. Afinal, estamos acostumados a ver a Divindade como "Ele". Mas na Bruxaria Tradicional as coisas não são bem assim.
A Divindade é vista tanto como feminina como masculina, sendo que o aspecto feminino (a Deusa) é o aspecto primordial, que cria o aspecto masculino (o Deus Cornífero).
Inconcebível a ideia de trabalharmos com estas duas forças separadas, afinal cada uma delas tem suas particularidades, o yin yang.
Mas nossa ideia central aqui é falarmos sobre Ela, a deusa, que a todos concebeu e para onde todos iremos voltar.
Vemos a Deusa como sendo o aspecto primordial da divindade, pois é Ela a Criadora de Tudo, assim como uma mãe dá a luz aos seus filhos.
Os filhos da Deusa somos todos nós e tudo o mais que existe no Cosmos.
Até mesmo o próprio Deus Cornífero, Sua contraparte.
Do ventre da Deusa tudo nasceu e para ele todos retornarão para renascer, é o que se diz na Bruxaria Tradicional.
O ventre da Deusa é também simbolizado pelo caldeirão, um símbolo celta importante, entre outras coisas, ligado à transformação e a reencarnação.
A Deusa não apenas criou tudo o que existe, mas também É tudo o que existe.
Ela não é apenas transcendente, mas imanente. O Universo é Seu corpo, Sua mente, Sua alma e Seu Espírito.
Vemos a Deusa em todos os lugares e em lugar nenhum, dentro e fora de nós mesmos.
Reside dentre de nós próprios uma centelha Dela (e também do Deus), o que nos faz divinos.
A Deusa costuma ser representada pela Lua.
Este satélite da Terra costuma, desde tempos antigos, em diversas culturas, ser visto como feminino, regendo as emoções, os sentimentos, o inconsciente, as sombras, a intuição e tudo aquilo que não pode ser analisado e classificado friamente.
A lua muda de fase a cada sete dias. Isso mostra o caráter mutável da Deusa.
Ela não é estática, ela sempre apresenta uma face nova, de tempos em tempos.
Na lua crescente Ela é a Donzela, também chama de Virgem. Na lua cheia Ela é a Mãe, Criadora de Tudo. Na lua minguante é a Anciã, ou a Velha Sábia.
Como Donzela, Ela possui o seu aspecto virginal, significando não o fato de nunca ter se relacionado sexualmente com um homem, mas, sim, o fato de ser solteira, independente e livre, não se submetendo ao jugo de homem algum.
A cada dia da lua crescente, a força da Donzela floresce, como cresce sempre a força da juventude.
Ela é vista muitas vezes como sendo delicada, gentil, uma criança brincando, mostrando assim sua inocência.
Mas é também vista como uma Caçadora (Ártemis/Diana, por exemplo).
Dessa forma, pode ser agressiva, pois desafia a tudo e a todos para garantir a sua liberdade.
A Donzela vê o Infinito à sua frente e não deseja que ele seja restringido.
Na primeira noite de lua cheia, a Deusa passa de Donzela para Mãe.
É o Seu momento de maior poder, em que Ela é a Criadora de Tudo.
Este aspecto luminoso representa o parto. Muitas vezes, a Mãe é vista como uma mulher grávida, ou uma mãe zelosa (Deméter/Ceres).
A Mãe dá Amor a todos os seus filhos, o que inclui não apenas os seres humanos, como também toda a Natureza.
A Mãe representa a abundância e, por isso, é a Rainha da Colheita.
A Deusa é a própria Natureza, da qual fazem parte todos os seres que aqui habitam, de todos os reinos, sejam eles animais, vegetais ou minerais.
Como tudo o que chega ao seu ápice começa a declinar, depois da lua cheia vem a lua minguante, em que a Deusa se torna a Anciã.
Neste momento, a Deusa não é mais capaz de engravidar. Ela retém o seu sangue menstrual, o que lhe conserva poder.
Se por um lado a Deusa perdeu o viço da juventude, por outro ganhou experiência, sabedoria e conhecimento.
Ela é vista como a Conselheira.
Já passou pela etapa de concepção, sabe o que significa gerar a vida, o que lhe torna sábia.
A Anciã está relacionada à morte.
Ela é a Ceifeira, aquela que restringe aquele Infinito que a Donzela preza tanto.
Afinal, tudo o que nasce morre para que possa ser transformado.
Porém, a Anciã também é vista como a Curandeira, que entende das ervas que curam os males de um doente, sejam eles de qualquer espécie.
Além disso, a Anciã é uma Parteira, o que mostra que a Morte está relacionada à Vida e vice-versa.
O Caldeirão da Transformação é propriedade da Anciã (como mostrado na deusa celta Ceridwen).
As faces da Deusa mostram como ela é mutável.
Ela muda como também muda a Natureza e nós mudamos. Por esse caráter, um dos símbolos da Deusa é a Serpente, pois ela troca de pele quando esta já cumpriu o seu papel, renovando-se.
Pois para a Deusa a Eternidade é a Mudança. "Tudo flui". "No mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos". (Heráclito, filósofo pré-socrático).
A Deusa não pode ser definida com poucas palavras.
Ela possui suas três faces e é representada por infinitas divindades femininas em todo o mundo. Cada divindade, um aspecto Dela, como espectro de uma luz que passa por um cristal e se divide em milhares de cores.
Ela é a chamada Deusa dos Dez Mil Nomes.
Como já foi dito, Ela é a Deusa da Terra; Ela é a própria Natureza; é Gaia. Sua pulsação é sentida nos bosques, nas matas, nas florestas.
Seus humores são sentidos nas marés dos oceanos. Sua solidez está nas montanhas, no solo firme.
Nos rios correm seu sangue. No centro do planeta, bate seu coração ardente.
Sua calma respiração é percebida na doce brisa que nos refresca.
Sua fúria inconcebível é sentida no poder dos furacões.
Ela é Deusa de tudo o que vive e tudo o que existe está vivo, tudo emana as energias Dela.
Mas a Deusa não está só no planeta em que vivemos.
Ela é também a Deusa Estelar e por isso seu símbolo é a Lua.
Está nos mistérios do Universo, nas estrelas, em distantes planetas, nos intrigantes buracos negros.
A Deusa está além do Universo, naquilo que não podemos compreender, do qual não conseguimos falar.
Ela é imanente, sentida na Natureza e dentro de nós mesmos.
E ela é transcendente, estendendo-se até o Infinito, Sua Criação.
À Deusa pertence a Sabedoria.
Pela mitologia comparada podemos perceber que normalmente as deidades relacionadas à Sabedoria são femininas, tais como Minerva, Sophia, Athena, Ísis e Ceridwen.
Até mesmo no misticismo judaico isso pode ser visto. Shekinah, a parte feminina do Deus judaico-cristão, é também relacionada à Sabedoria.
Às deidades masculinas normalmente o que cabe não é exatamente a Sabedoria, mas o Conhecimento, o que pode ser muito bem visto em Thot/Hermes.
Embora possamos sentir a Deusa, ter uma experiência direta com Ela, realmente tomar conhecimento empírico de que Ela existe, não podemos compreendê-La em sua totalidade.
A Deusa transcende tudo o que conhecemos.
Pois Ela é tudo o que é conhecido e também todos os mistérios que ainda estão por ser revelados.
Todos os conceitos que podemos formular através da nossa mente tão poderosa e tão limitada são dissolvidos por Ela.
Bem e mal, certo e errado, nada disso existe para a Deusa. Ela está além disso.
Ela está ligada não apenas à criação, mas também à destruição.
E não vemos nisso o mal.
Ao se cortar madeira e queimá-la em um fogão à lenha, garante-se que comida poderá ser preparada e uma família ter suas necessidades alimentícias satisfeitas.
Através da destruição da madeira o sustento de uma família foi garantido.
A destruição não é algo mau em si, desde que trabalhe lado a lado das forças da criação.
Por isso, não devemos ver tudo o que é destrutivo como algo maléfico.
Muitas vezes o que parece aterrorizante é uma força necessária.
Não dá para conceituar com exatidão os processos da Deusa, pois eles transcendem a nossa capacidade de compreendê-los totalmente.
Tem se falado muito atualmente, nos meios da Bruxaria, sobre a segunda vinda da Deusa.
Com o florescimento da Bruxaria Tradicional e outras religiões pagãs a partir do meio do século 20, o aspecto feminino da Divindade voltou à tona, depois de pelo menos dois mil anos relegado à obscuridade, muitas vezes referido como algo maléfico.
Na realidade, a Deusa não está voltando de algum lugar para aqui onde estamos, é claro!
Se a Deusa não apenas tudo criou como tudo é, como pode ela ter ido para algum lugar em que Ela já estava para depois voltar para algum lugar da onde Ela nunca saiu?
A volta da Deusa é o reflorescimento da percepção dos seres humanos da parte feminina da Divindade.
É o encontro com o feminino que mora dentro de cada um de nós, o despertar da intuição, a capacidade de amarmos e respeitarmos ao nosso próximo, a compreensão das diferenças, a preservação da natureza.
Por muito tempo, os seres humanos deixaram de perceber o feminino na Divindade.
As religiões patriarcais, muitas vezes distorcendo o que foi pregado pelos seus fundadores (como aconteceu no cristianismo) passaram a valorizar o aspecto masculino mais do que o feminino, causando um desequilíbrio.
A Deusa perdeu sua importância para sobreviver pelos séculos em figuras como Virgem Maria e Maria Madalena, que, embora importantes, estão relegadas à segundo plano no patriarcalismo.
Durante muito tempo o feminino esteve em baixa. Com a volta da Deusa, um reequilíbrio está vindo à tona.
Não julgando o patriarcalismo como algo definitivamente maléfico, pois ele também teve os seus méritos, o Divino Feminino vem para corrigir distorções que se estabeleceram com o tempo.
A conexão com a Deusa é um processo vital na Religião da Bruxaria Tradicional.
A Deusa é a Grande Criadora e mantenedora da vida. É através dela que todas as coisas provém e a Ela tudo um dia retornará.
Segundo a Crença Pagã, a Deusa possui 3 faces:
A donzela, a Mãe e a Anciã. As 3 faces da Deusa estão ligadas às 3 faces da Lua trabalhadas na Bruxaria, que são as Luas Crescente, Cheia e Minguante, e aos 3 ciclos de nossa vida, que são a infância a maturidade e a velhice.
Entrar em contato com as faces da Deusa significa saber o que esse período podem nos trazer de positivo o que aprendemos e poderemos aprender com eles
Dentre as 3 faces da Deusa, Donzela ou, como também é chamada, a Virgem é a mais jovem, relacionada com os descobrimento e aspectos mais criativo de nossa personalidade. Ela é a inocência e despreocupação, a alegria de viver. Esta associada com a Primavera e é festejada em Ostara.
O termo Donzela ou Virgem não se refere ao sentido sexual, mas sim ao aspecto de inocência e independência. A Virgem e a dona e responsável por si mesma. Este é um sentido quase inconcebível de pensar em uma sociedade patriarcal, mas que era muito compreendido e aceito entre as sociedade primitiva.
Os nomes recebidos pela Donzela variam de acordo com as distintas culturas em que a encontramos. Damos como exemplo:
Ártemis: Deus romana dos bosques e da caça, tida a eterna Virgem.
Perséfone: Também conhecida como Prosérpina, cujo nome justamente significa Donzela. É a filha de Deméter e foi raptada por Hades; reina junto com ele no Submundo, lembrando-nos assim o outro aspecto da Deusa: A Anciã.
Rhianon: Deusa celta que saiu do submundo, que a relaciona com Perséfone.
Rituais que usam a face Virgem da Deusa
· Qualquer novo inicio, ou até mesmo esperanças e planos para novos começos.
· Quando assumimos um trabalho novo ou planejamos solicitar um novo trabalhos.
· Durante os "primeiros passos" das novas idéias.
· Sempre que você planeja ou começa um ciclo completo em sua vida.
· Quando se muda para uma nova casa ou apartamento.
· Ao entrar em uma nova escola ou voltar a est7udar depois de um longo tempo.
· Qualquer jornada que esteja conectada com mudanças antecipadas.
· Começo de uma relação nova, amor ou amizade.
· Planos para engravidar.
· Nascimento de uma criança.
· A primeira menstruação de uma menina.
· O inicio da puberdade de um menino.
Os animais associados ao aspecto Virgem da Deusa são os Cervos e qualquer outro animal silvestre.
O aspecto Virgem da Deusa representa a mocidade, a excitação da conquista dos desejos, a novidade da vida e da magia. Na idade humana ela estaria entre a puberdade e os vinte anos. As cores dela são suaves e claras, como branco, cor- de- rosa ou amarelo.
MÃE
A face Mãe da Deusa é tida como a da eterna doadora da vida. Esta foi uma das primeiras representações religiosas expressas pelos seres humanos.
É a esse aspecto da Deusa que estão associadas todas as imagens que foram encontradas em escavações de sítios arqueológicos, como a Vênus de Willendorf.
Algumas imagens mitológicas atribuídas á Mãe são tidas tanto como criadoras quanto destruidoras. Podemos ver isso como a própria Natureza em todos os seus aspectos.
Existem numerosos exemplos que poderiam ser associados ao aspecto da Deusa.
Deméter: Encarregada da fertilidade da terra e das colheitas.
Ísis: Chamada também de a Grande Mãe Criadora e Doadora da Vida.
Badb: A Deusa celta que forma uma trindade junto com Anu e Macha. Possui um caldeirão como símbolo do ventre.
Freya: Considerada a líder das Disir, as matriarcas Divinas. Está intimamente ligada a Magia e aos gatos.
Todos os rituais que usam a face Mãe da Deusa
· Projeto de alegria e conclusão
· Quando o parto está próximo.
· Necessidade de força para finalizar algum assunto ou situação mal- resolvida.
· Benção e proteção. Especialmente a mulheres que são ameaçadas por homens.
· Direção em decisões na vida.
· Matrimônio.
· Achando ou escolhendo uma companheira ou um companheiro.
· Escolhendo ou aceitando um animal. Proteção de vida aos animais.
· Fazendo escolhas de qualquer tipo.
· Buscando por períodos de paz.
· Intuição ou desenvolvimento psíquico.
· Direção espiritual.
A Mãe é aquela que se volta para a nutrição, a preocupação e a fertilidade; é uma mulher no início da vida e no cume do seu poder. Ela protege e assegura a justiça. Na idade humana, seria uma mulher por volta dos trinta anos. As cores dela são um pouco mais fortes que as da Virgem, como vermelho, verde, cobre, púrpura, azul.
Os animais associados ao aspecto Mãe da Deusa são o gato e a pomba.
ANCIÃ
Sem a Virgem não há começos, sem a Mãe não há vida e sem a anciã não há o fim. A Deusa Anciã é o aspecto menos compreendido e o mais temido, já que nos leva inevitavelmente a refletir sobre a morte.
A Anciã foi reverenciada nas antigas culturas como regente do submundo, visto antigamente como um lugar de descanso das almas entre as reencarnações. Obviamente todos nascemos e morremos e a função da Deusa Anciã é nos acompanhar durante a última etapa de nossa vida, preparando-nos para o Outro Mundo.
Os exemplos associados a Deusa Anciã são:
Hécate: Entre os gregos chamada durante a idade Média de a Rainha das Bruxas, era uma divindade do Submundo e da Lua, adorada nas encruzilhadas, onde se faziam sacrifícios em sua homenagem.
Hel: Deusa germânica do Submundo. Segundo os Mitos, era a Ela que retornavam todos os mortos ao fim de sua existência.
Morrigu: Deusa celta dos Mortos, que também regia as guerras. Tem um aspecto triplo em si mesma e às vezes era chamada de "As três Morrigans".
Temas de Rituais que usam a face Anciã da Deusa:
* Relações, trabalhos, amizades e amizades que estejam terminando.
* Menopausa ou sintomas de envelhecimento.
· Divórcio.
· Um reagrupamento de energias necessárias para o término de um ciclo de atividades ou problemas.
· Tranqüilidade antes de pensar em novas metas e planos.
· Mudança de habitação ou trabalho.
A Anciã é um ser de sabedoria da idade avançada. Ela é a Bruxa e conselheira. Preocupa-se com a Virgem e com a Mãe. Ela é lógica e pode ser terrível em sua vingança. Na idade humana, ela teria aproximadamente 45 anos ou mais . Dos três aspectos o mais difícil de ter correspondência com a idade humana é o da Anciã. As cores tradicionais dessa face são : preto , cinza, púrpura, marrom, ou azul noite.
O aspecto negro da Deusa nos ensina que, assim como tudo na Natureza se move em ciclos, nossa vida segue o mesmo fluxo, e devemos aceitar a morte como uma passagem a outro estado, tão válido e parte da vida quanto o próprio nascimento.
Os animais associados à Deusa Anciã são a coruja, o corvo e o lobo.
Selma - 3fasesdalua