Ys, a cidade da lenda, sepultada na baía de Douarnenez, na Bretanha, França
Entre a lenda e a história real há sempre uma zona nebulosa de incerteza. O fato é que a figura de uma cidade submersa, com uma catedral magnífica cujos sinos tangem ao sabor das ondas, ainda hoje excita as imaginações.
A misteriosa Bretanha é uma das mais interessantes regiões da França. Imensa plataforma que avança sobre o Atlântico, ao sul da Grã-Bretanha, ela é castigada por toda espécie de ventos e marés, como também o foi por invasões, ao longo de sua história milenar.
Os primeiros celtas chamaram-na Armor — “Terra voltada para o mar”. Daí o nome de Península Armórica, que ainda hoje a designa.
Na sua extremidade sul formou-se a Cornualha, nome que parece vir da Cornwall britânica, a península mais ocidental da Inglaterra.
Ocupada por gauleses, romanos, celtas, várias vezes saqueada pelos normandos, a Bretanha constituiu-se em reino até o século X, e depois em poderoso ducado, antes de ser incorporada definitivamente à França com os casamentos sucessivos de Ana de Bretanha com Carlos VIII e Luís XII, ambos filhos do astuto Luís XI.
Cheia de mistérios, é uma terra fértil em lendas e tradições imemoriais.
Santos, calvários, menires, peregrinações dos perdões… uma riqueza de tradições e costumes que fazem da Bretanha uma região especial, cheia de mitos e legendas. É o caso do rei Artur e seus cavaleiros da távola redonda.
O Santo Graal da legenda teria sido o cálice usado por Nosso Senhor na Santa Ceia.
José de Arimateia, membro do Sinédrio e discípulo oculto do Divino Mestre, teria trazido da Terra Santa esse cálice, contendo algumas gotas do Preciosíssimo Sangue de Cristo.
Na península Armórica, o discípulo teria vivido numa floresta para depois desaparecer sem deixar traços.
Outra lenda da Bretanha concerne a cidade de Ys, ou Is, sepultada no fundo do mar na baía de Douarnenez, a “baía dos mortos”.
Construída sobre um pólder e protegida por um dique, Ys teria sido a capital da Cornualha sob o rei Gradlon, o Grande, no século VI.
Enormes comportas permitiam evacuar as águas que vinham dos rios e proteger a cidade das marés altas. O rei guardava pessoalmente a chave das portas do mar, como eram conhecidas as comportas.
Gradlon tinha uma filha chamada Dahud ou Ahés. A princesa, em toda a cidade, era conhecida por seus costumes dissolutos.
Gwenolé (ou Guenole), um santo monge da região, vinha frequentemente a Ys e advertia os seus habitantes, mas estes não lhe davam ouvidos.
A fuga do rei Gradlon.
Evariste Vital Luminais (1822–1896). Musée des Beaux-Arts, QuimperDeus permitiu então que o demônio se introduzisse no palácio real sob a forma de um formoso jovem e seduzisse a filha do rei, a quem o príncipe das trevas pediu como prova de amor que ela abrisse as comportas que protegiam a cidade.
Dahud roubou as chaves do pai quando este dormia e fez a vontade diabólica.
A maré estava alta quando as eclusas foram abertas. As águas invadiram logo as ruas e as casas da cidade, apanhando de surpresa os seus habitantes, a maioria dos quais adormecidos.
Deus permitiu que o rei fosse despertado por Gwenolé alguns instantes antes da tragédia. O soberano saltou sobre o seu cavalo e fugiu precipitadamente, levando a filha na garupa do animal.
Mas, enquanto o cavalo do monge ia rápido como o vento, o de Gradlon esgotava-se rapidamente com o peso da pecadora. As ondas já alcançavam os fugitivos.
Gwenolé ordenou então ao rei que, se quisesse salvar-se, devia separar-se de sua filha; Gradlon recusou-se. As águas começaram a cobrir os cascos do animal.
O santo renovou então sua ordem e, finalmente, o rei obedeceu. No mesmo instante, seu cavalo deu um salto e como que libertado de um grande peso, disparou.
Logo o rei e o monge atingiam terra firme enquanto o mar cobria toda a cidade de Ys, até seus mais altos monumentos.
Depois Gradlon teria feito de Quimper a sua nova capital e terminado seus dias em penitência, falecendo em odor de santidade.
(Autor: Gabriel José Wilson.)
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