Contudo, existem outras explicações para a história da origem do mundo, nas entrelinhas dessas versões. Em versões marginais, encontramos Lilith, a primeira esposa de Adão, criada como ele, antes de Eva. Em princípio, Lilith e Adão eram um só, sendo separados em seguida, vivendo assim, um intenso amor. Ao se confrontarem, Lilith se afasta de seu marido e é expulsa do paraíso. Desesperado em sua solidão, Adão pede por uma nova companheira, surgindo assim, Eva “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!” Gênesis 2.23 (Bíblia). O mito de Lilith é um dos mais mal-compreendidos dos mitos, sendo até mesmo banido da tradição escrita, quando esta foi compilada.
A primeira mulher de Adão, um demônio, uma succubus, quem foi Lilith e onde podem ser encontradas as fontes de sua origem?
Tudo tem seu início na “Tradição Oral”. Podemos afirmar que tradição oral é “a preservação de histórias, lendas, usos e costumes através da fala. Origina-se do primórdio dos tempos, quando ainda não havia a escrita e os materiais que pudessem manter e circular os registros históricos” (Wikipedia) . Para que a fé não se perdesse com o tempo, as histórias, leis e orientações religiosas eram passadas oralmente de geração em geração em algumas culturas. “Os 1ºs elementos foram escritos longos, repetidos de geração em geração e evocam o destino de grandes personagens, ou a origem de um rito.” (MARTIN-ACHARD).
Vemos isso claramente na história dos israelitas: “Nesse dia cada um dirá a seu filho: Assim faço pelo que o Senhor fez por mim quando saí do Egito. Isto lhe será como sinal em sua mão e memorial em sua testa, para que a lei do Senhor esteja em seus lábios [...]” Êxodo 13.8,9 (Bíblia) . Os testemunhos da Torah ou Pentateuco – os primeiros cinco livros da Bíblia – são escritos pela fé dos Rabis, mas também são testemunhos de lendas, mitos, sagas e usos folclóricos populares, que os Rabis usavam para explicar as origens do mundo e da humanidade.
A falta de registros sobre Lilith na Bíblia pode ser explicada pelo fato de sua lenda ter sido perdida ou removida durante a época da transposição de versões das tradições do Pentateuco, além das modificações sofridas pelos Pais da Igreja – líderes da igreja cristã que começaram a ser chamados dessa forma por volta do ano 95 d.C.
O Pentateuco foi escrito por diversas tradições. Entre essas tradições encontramos: a tradição javista – que relata a criação (Gênesis 2 a 4), a eleição de Abraão e a libertação do Egito, e termina com a ocupação da terra prometida. Escrito no reino de Judá, foi o desenvolvimento de um antigo credo ritual lembrando as diversas etapas da história do povo eleito (Dt 26.5-10; Js 24.2-13) – e a tradição sacerdotal – escrita por sacerdotes exilados na Babilônia que, sob influência de Esdras, no século V a.C., fazem este documento, que contém uma série de leis, em grande parte cultuais; uma extensa narração da História Santa, que começa com a criação (Gn 1) e conta as alianças sucessivas que Deus fez com Noé, Abraão, Moisés e com o sacerdócio.
A transposição dessas tradições influenciou grandemente na definição das histórias e mitos que ficaram e foram aceitos como verdade. Esse é um dos principais motivos da falta de conhecimento por parte dos ocidentais a respeito do mito de Lilith, e a causa da repulsa por parte dos cristãos, quando têm acesso a informações extremamente equivocadas a seu respeito.
(SICUTERI). Instaurado na imaginação, como explicação daquilo que não se pode racionalizar, o mito de Lilith não só se fixou nas culturas antigas, como se tornou o arquétipo da Grande Mãe em diversas épocas.
O demônio que come crianças, a succubus que possui os homens enquanto dormem, a Lua Negra, a Bruxa, enfim, infindáveis versões relatam sua existência e nos fascinam, por representarem as possíveis respostas para estereótipos femininos que não se adéquam ao que é pré-ordenado.
Antes de negarmos o conhecimento a respeito de Lilith, ou simplesmente rotulá-la, é importante e compensatório conhecermos sua origem, história e a importância de seu mistério na busca da compreensão de nós mesmos, pois “falar sobre Lilith não tem a ver com o racional, é uma fantasia” (SICUTERI) . Lilith desperta em nós o deslumbramento, nos seduz, nos encanta como um feitiço. Seja bem-vinda/o ao seu mito, à sua história, se deixe levar pelo seu encantamento.
Fontes: Bíblia Nova Versão Internacional pt.wikipedia.org/wiki/Tradição_oral MARTIN-ACHARD R. “Como ler o Antigo Testamento” Aste SICUTERI, Roberto. “Lilith, A Lua Negra”. Paz e Terra, São Paulo, 1990.
Fontes: Bíblia Nova Versão Internacional pt.wikipedia.org/wiki/Tradição_oral MARTIN-ACHARD R. “Como ler o Antigo Testamento” Aste SICUTERI, Roberto. “Lilith, A Lua Negra”. Paz e Terra, São Paulo, 1990.
Gostei muito!
ResponderExcluirOtiÓt
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