segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Lenda / Mito de CuChulainn


Muitas das lendas irlandesas provêm de uma Cultura que remonta aos tempos pré-cristãos. Cultura essa que se manteve praticamente intacta pelo o fato dos Romanos nunca terem chegado a instalar-se na Irlanda e, consequentemente, o idioma ali falado não ter sido afetado pelo Latim. Também uma forte tradição oral e a existência de várias escolas druídicas permitiam passar, intactos, de geração em geração, ensinamentos e conhecimentos.
Quando, a partir do século V, o Cristianismo chegou à ilha, os copistas monarcais registraram não apenas as Sagradas Escrituras como também as antigas histórias irlandesas que tão bem conheciam.

Se existe algum herói irlandês comparável ao grego Héracles e que mereça ser lembrado por suas façanhas, este é sem dúvida o caso de Cuchulainn.. Suas aventuras, integradas dentro do que se conhece como o ciclo do Ulster, nos situam na Irlanda do primeiro século antes de Cristo e do primeiro século depois do nascimento de Jesus. A lenda sobre ele contém algumas das descrições mais interessantes que chegaram a nós referentes aos princípios vitais que animavam os celtas da época, inclusive devido a seus fortes sentidos religioso, social e humorístico.



No tempo em que Conchobar era rei do Ulster, nome dado a uma das quatro províncias históricas da Irlanda, seus capitães viram um bando de aves que se alimentavam das ervas da planície junto de Emuin Machae. Os guerreiros eram caçadores de aves e partiram nos seus carros perseguindo-as até onde quer que elas pudessem levar.

Dechtire tomou as rédeas do carro do seu irmão, o rei Conchobar e mais nove carros, partiram pela planície atrás das aves. Uma corrente de prata ligava as aves aos pares, e estas voavam e cantavam tão bem que os homens do Ulster se sentiam encantados.

Logo o entardecer aproximava-se e os homens procuraram um abrigo, pois estava a nevar. Foram bem recebidos numa cabana por um homem que lhes deu de comer e de beber, e, ao cair da noite, os homens do Ulster estavam bem ale­gres. O seu hospedeiro anunciou que a sua mulher estava prestes a dar a luz e pediu a Dechtire para ajudar. Os ho­mens trouxeram um par de potros da neve, e ofereceram ao menino que Dechtire estava a acariciar.

Na manhã seguinte, os homens des­pertaram e viram apenas o menino e os seus potros, pois as estranhas aves e a cabana tinham desaparecido; estavam exatamente a leste de Bruig. Regressa­ram a Emuin Machae, onde o rapaz cresceu e depois de alguns anos adoeceu e repentinamente e veio a falecer. Dechtire chorou amargamente a morte do seu filho adotivo. Então, pediu água e foi­-lhe dada uma tigela de cobre, mas sem­pre que a levava aos lábios uma pe­quena criatura saltava da água para a sua boca, nada vendo cada vez que olhava para a tigela.


Certo dia, o sono de Dechtire foi interrompido por um sonho do homem numa casa-fantasma. Ele disse­-lhe que a seu nome era Lugh, filho de Ethniu, que a tinha atraído a casa e que ela era agora portadora da semente do seu filho: o menino iria chamar-se Setenta (CuChulainn, pronuncia-se Cu-hu-lim) e receberia os dois potros que só a ele estavam destinados. 

Quando os homens de Ulster viram que Dechtire estava com a criança, perguntaram se o pai poderia ser o próprio Conchobar, pois o irmão e a irmã dormiam lado a lado. Mas, o rei livrou-se do embaraço, prometendo a sua irmã em casamento a Sualtam, filho de Roech.

No entanto, Dechtire sentia-se mortificada por ter que dormir com seu esposo, quando já trazia dentro si o filho de outro homem. Assim, numa noite que estava só, esmagou o bebê que tinha no ventre. Logo em seguida Dechtire engravidou de novo e nasceu CuChulainn, o filho de Sualtam.

CuChulainn foi um dos maiores heróis da mitologia e lenda Irlandesas era um guerreiro a serviço de Conchobhar, rei de Ulster, ficou muito conhecido por sua defesa solitária de Ulster. É dito que CuChulainn teria vivido no ano 1 A.C e contos sobre ele e outros heróis teriam sido escritos a partir do ano 700 D.C.
As aventuras de CuChulainn foram gravadas numa série de contos conhecido como circulo de Ulster (Ulster Cycle).


CuChulainn se apaixonou por Emer e a pediu em casamento. Emer insistiu que CuChulainn deveria provar seu valor realizando uma série de provas, então enviou-lhe para a Deusa da guerra Scatha. Cuchulainn teve que passar pela planície do azar, onde a grama corta os pés dos viajantes, teve que cruzar o Vale Perigoso onde animais perigosos vagavam. E Teve que cruzar também a ponte do abismo, essa ponte se curvava verticalmente, caso alguém tenta-se atravessá-la, CuChulainn com um grande salto, pulou no meio da ponte e deslizou para o outro lado.

Para agradecer seu treinamento, CuChulainn lutou contra Aife inimiga de Scatha e a mulher mais forte do mundo. Depois de derrota-la CuChulainn fez as pazes com ela, e ela lhe deu um filho de nome Cornila. Ao regressar para casa para reclamar sua noiva, CuChulainn salvou uma princesa e visitou o Submundo(mundo dos mortos). Voltando para casa CuChulainn, conseguiu sua maior vitória. Quando a rainha de Connacht Medb enviou um grande exército para roubar o Touro Castanho de Ulster (touro esse ganho por CuChulainn numa competição em Connacht sendo ele aclamado como herói), CuChulain os deteve sozinho pois ele era imune a maldição que enfraquecia todos os guerreiros. Diz a Lenda que o pai humano de CuChulainn (Sualtach Sídech ou Sualtaim) tinha o mesmo dom de imunidade a essa maldição que fora lançada por Macha, a deusa guerreira. Fala-se também que nas batalhas mais dificeis o deus Lugh, também pai de CuChulainn, ajudava-o e por vezes substituía-o em combate por até três dias.

CuChulainn conseguiu muitas vitórias no Ulster, mas também muitas vitórias tristes, num combate corpo a corpo matara seu filho Cornila descobrindo depois a identidade do mesmo. Durante outra batalha, ele foi forçado a lutar contra Ferdia seu amigo de infância que estava enfeitiçado com promessas de amor de Medb e provavelmente por Macha, ao matar o amigo cai de joelhos e regando o corpo do amigo com lagrimas considera aquilo uma perda irreparável. Conta a lenda que as sucessivas batalhas contra Medb e contra os feitiços de Macha o levariam ao declínio e posteriormente a morte.


Depois de ofender Morrigan, a deusa da morte e batalhas, ele foi convocado para lutar em um momento em que ele estava doente. No caminho para a batalha, ele teve uma visão de uma mulher lavando o corpo e armas de um guerreiro morto, e ele reconheceu o guerreiro como a si mesmo. Sabendo, então, que sua própria morte eraiminente, ele lutou bravamente. Quando ele estava fraco demais para ficar de pé, CuChulain se amarrou a um pilar para que ele pudesse morrer lutando em pé. Só depois que um corvo pousou em seu Ombro seus inimigos tiveram certeza da morte dele, pois ele matará todos que se aproximavam dele. Morreu aos 27 anos de idade.

As mais antigas narrativas de Morrígan estão nas histórias do "Ciclo do Ulster", onde ela tem uma relação ambígua com o herói CuChulainn. No Táin Bó Regamna (Invasão do gado em Regamain), ele a desafia, sem compreender o quê ela é, quando ela guia uma novilha por seu território, tornando-se seu inimigo. Ela profere uma série de ameaças, predizendo finalmente uma batalha próxima onde ele será morto. Ela diz, enigmaticamente: "Eu vigio sua morte".

No Táin Bó Cuailnge a Rainha Medb de Connacht comanda uma invasão ao Ulster para roubar o touro Donn Cuailnge. Morrígan surge ao touro na forma de um corvo, e o previne para fugir. CuChulainn defende o Ulster, travando no vau de um rio uma série de combates contra os campeões de Medb. Entre os combates, Morrígan lhe surge, com aparência de uma bela moça, oferecendo-lhe seu amor e auxílio na batalha - mas ele a rejeita. Como vingança ela interfere no seu próximo combate, primeiro assumindo a forma de uma enguia, fazendo-o tropeçar; depois, com a forma de um lobo, provocando um estouro da boiada, e finalmente como uma novilha que conduz o rebanho em fuga - tal como havia ameaçado em seu primeiro encontro. CuChulainn é ferido por cada uma das formas que ela assume mas, apesar disto, consegue derrotar seus oponentes. Ao final ela reaparece-lhe, como uma velha que trata-lhe os ferimentos causados por suas formas animais, enquanto ordenha uma vaca. Ela oferece a CuChulainn três copos de leite. Ele a abençoa por cada um deles, e suas feridas são curadas. 


Numa das versões sobre o conto da morte de CuChulainn, falando sobre como o herói enfrenta seus inimigos, diz-se que este encontra Morrígan como uma velha que lava sua armadura ensangüentada à margem do rio - um presságio de sua morte. Depois, mortalmente ferido, CuChulainn amarra-se a um pilar de pedra com suas próprias entranhas, para assim poder morrer em pé... somente quando um corvo (que também representa Morringan) pousa sobre seu ombro é que os inimigos acreditam que ele realmente está morto. 

Conta-se que apesar de ter aparêcia dócil e temperamento calmo, durante as batalhas Cuchulainn se transfigurava numa figura de fúria assassina a qual não diferenciava amigos de inimigos, sendo só acalmado quando ele voltava para sua terra onde era recebido por mulheres nuas que o banhavam com água gelada.

No entanto, e embora o herói Cuchulainn tivesse um deus por ascendente, ele próprio não era imortal e a epopéia do seu combate contra as hostes da malévola Maeve prossegue até que chega a um trágico final. O caso é que ainda o herói do Ulster tem que lutar contra outros guerreiros poderosos, aos quais Maeve transferiu a sua magia e as suas más artes. Entre estes destacará quem, com a sua ingente prole -segundo a lenda tinha vinte e sete filhos-, enfrenta Cuchulainn e lhe arrebata a sua lança mágica. Depois provoca-lhe graves feridas por onde brota muito sangue e o herói, que vê chegado o último momento para ele, decide atar-se com o seu cinto de couro a uma coluna para morrer em pé. Conta o relato que o seu cavalo se afastou, depois de o roçar com o seu focinho, daquele lugar, a todo o galope. Quanto a Emer, esposa do malogrado herói, morrerá desfeita em lágrimas sobre o cadáver de Cuchulainn. Já à beira da morte, ainda conseguiu partir com a sua poderosa espada o aço do inimigo que se aproximava para lhe cortar a cabeça, conseguindo assim não morrer decapitado.


CuChulainn hoje: A imagem de CuChulainn é invocada tanto por nacionalistas irlandeses quanto por unionistas do Ulster, em murais, poesia, literatura e outras formas de arte. Os nacionalistas irlandeses o vêem como o mais importante herói céltico irlandês e, por conseguinte, como o mais importante de toda a sua cultura. Uma escultura de CuChulainn agonizante feita por Oliver Sheppard foi colocada em frente aoGeneral Post Office de Dublin em comemoração à Revolta da Páscoa de 1916. Por contraste, os unionistas o vêem como o homem do Ulster que defende a província de seus inimigos do sul; por exemplo, um mural na Estrada Newtownards em Belfast Leste, ironicamente baseada na escultura de Sheppard, descreve-o como o "defensor do Ulster contra os ataques irlandeses". 

Na Associação Nacional dos Escoteiros da Irlanda, a mais alta condecoração é a Ordem de Cú Chulainn, que consiste numa fita comemorativa com um cão de caça pendente. O Serviço Naval Irlandês possuía um barco cujo nome fazia uma referência ao herói, o LÉ Setanta, que foi vendido em 1980.

As histórias de Cuchulainn são as do mesmo passado dos irlandeses, mas também dos escoceses, pois sua odisséia transcorre em ambos os territórios. Fazem parte de seu legado cultural e, por esse motivo, muitos avós que nunca estudaram formalmente o mito são capazes, ainda hoje, de relatar a seus netos com extraordinária vivacidade as aventuras e desventuras deste guerreiro - da mesma forma como a história foi contada um dia a eles por seus avós, geração após geração, numa cadeia que remonta mais de dois mil anos no tempo.



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