sexta-feira, 14 de junho de 2013

Assim é até hoje, do começo ao fim, pois tudo é Ela. - COMPARTILHANDO


     Antiga como o pó que reveste o pé do nômade eu me deixei levar pelo vento em todas as mais diversas direções. E como o grão que cai no olho eu ceguei, para que ao ser lavada o olhar se torna-se finalmente livre daquilo que lhe turvava a vista.

Deitei-me na pedra do altar, como oferenda aqueles que amava, por amor à minha Deusa mas também aos homens que jurei curar. Eu lhes dei minha virgindade, adestrei-me por eles e aprendi o lado aprisionado da Deusa. E esqueci-me de mim mesma, numa amnésia infantil e segura. E então os homens acostumaram-se com minha obediência e servidão, determinados a manipular para sempre esse poder que nunca seria deles.

Foi então que a Roda de Prata tornou a girar, e ao retornar de minha latência a terra
tremeu sobre seus pés. Toda a segurança, o poder, a vida, subjulgados à morte que eu trago em minha fronte. E por isso correram, para algum lugar onde meu olhar furioso, sedenteo de sangue, não lhes pudesse alcançar. Mas a surpresa veio a me assombrar. Ao meu redor aqueles que não fugiram lembravam-se também de sua origem interina, e ansiavam por se tornar aquilo que já eram. Donos de si mesmos.

E então caminhamos juntos, unidos na irmandade do Amor por Aquela que jamias está além, mas sempre em nós. Diante de nós todo um mundo a ser explorado, um mundo que constantemente muda, transforma e cria. As vezes cruel, as vezes feliz, as vezes indiferente, mas sempre belo aos nossos olhos divinos.

Os que correram do olhar mortífero um dia pararam e assentaram vida no que podiam, criando deuses mortos e orgulhos estranhos. Alheios a nossa caminhada. Aguns, em sua correria, olharam para trás, nós sabemos, mas não puderam percorrer o caminho de volta pois havia muito medo a ser depurado.

Nós que caminhamos eternamente um dia cruzaremos suas vidas novamente, quem sabe agora com olhares mais aprazíveis. Ainda assim olharão aos irmãos com inveja indisfarçada, pela coragem de seguir adiante quando tudo que puderam fazer foi escapar. Quanto a mim, me tornei seus Diabos, bode expiatório de sua própria vergonha, externação perfeita de seus desejos mais sádicos e masoquistas. Me tornei suas prostituas e seus vícios, suas fugas.

De todo os caminhos o mais difícil foi aquele que encontrei plena aceitação a mim e
pouca aceitação dos outros a eles mesmos. E para cada cem que correram e feneceram um permaneceu e atingiu sua plenitude, e a Deusa permaneceu viva.

Assim é até hoje, do começo ao fim, pois tudo é Ela.


FONTE:  Gaius Gauré

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