domingo, 25 de novembro de 2012

O DEUS TRÍPLICE


"Para a Religião Antiga um Princípio Criador, que não tem nome e está além de todas as definições. Desse princípio, surgiram as duas grandes polaridades, que deram origem ao Universo e a todas as formas de vida." "Todas as Deusas são uma só Deusa, todos os Deuses são um só Deus." 


Era uma vez... 

Em um tempo muito, muito distante, quando a Deusa caminhava sobre a Terra e todas as coisas eram sagradas...

Nas noites encantadas,surgia em meio a floresta misteriosa um velhinho exausto e tremulo e a Deusa em sua face Anciã, o tomava em seus braços, se balançando em sua cadeira o embalava, cantando..., cantando...

E pela manhã ele saltava de seus braços, agora já uma criança radiante e se alçava aos céus para raiar o dia.

Ele é a Criança Solar, Ela é a Mãe de todas as coisas...


Enquanto a Deusa presida a pulsação vital constante do Universo, é imprescindível que entendamos o papel do Deus. Ela é a Senhora da Vida, mas Ele é o Portador da Luz; Ela é o ventre, Ele o falo ereto; Ela gera a vida, Ele é a faísca que inicia o processo, em plena harmonia, sem predomínios nem competições, mas pela completa união. Ambos parceiros no desenrolar da música e dança que criam e recriam o universo ainda hoje. Na Primavera Ela é a Donzela, Ele o Deus Azul do Amor... 

No verão ela é a Mãe, grávida, ele o Galhudo, o Deus da Vegetação e dos Animais, Cernnunnos. No outono ele desce para o Mundo Subterrâneo, como o Deus Negro do Mundo Inferior, do sacrifício e da Morte e Ela a Anciã que abre os portais e o acolhe durante sua transmutação. No inverno ele renasce do próprio ventre escuro da Deusa, que quase torna, assim, a um só tempo, sua consorte e sua mãe. 
Conectar-se diretamente com o Deus é de suma importância no resgate de qualidades humanas esquecidas no tempo.
A exemplo da importância do número 3, o Deus também apresenta seu tríplice aspecto, cada qual com sua importância em relação à formação do homem social.


O Cornífero 

Freqüentemente chamado de o Doador da Vida, Mestre da Morte e Ressurreição, Deus das Sementes, Deus da Fertilidade.

Deus Cornífero é um termo moderno, criado para descrever numerosas divindades masculinas . Essas divindades incluem, por exemplo, o celta Cernunnos, o gaélico Caerwiden A mais antiga imagem conhecida do Deus Cornífero é aquela do Deus com chifres de cervo ou alce, o Senhor das Florestas. Com o passar do tempo, à medida que a humanidade se tornava sedentária, passando da fase coletora para o desenvolvimento de uma agricultura e a domesticação de animais, surgem as imagens do Deus com chifres de touro e de bode. Em todo caso, todas essas imagens o representam como o Deus portador da renovação e da virilidade.

Durante a expansão do cristianismo, cristãos adotaram a imagem do Deus Cornífero para a representação do seu diabo, cuja descrição física incluía os pés de animal e os chifres. Com essa atitude, a Igreja Cristã tentava demonstrar ao pagão que sua fé no paganismo era ruim, má. Porem, o diabo é a representação do Mal Absoluto, enquanto o Deus Cornífero não é visto dessa forma. O Cornífero é uma força da natureza, não completamente beneficente ou maleficente. No seu papel de Pai, Ele dá a vida. Já em sua morfologia de Caçador, Ele a toma, em forma de sacrifício necessário para a continuidade da raça.

Os primeiros clãs humanos sobreviveram graças, em grande parte aos caçadores e guerreiros. Caçava-se o gamo, que fornecia o alimento, agasalho e instrumentos confeccionados com chifres e cascos. O alce de tornou um símbolo de previsões, e na sua natureza de líder e protetor da amada, os caçadores primitivos identificaram algo próprio do clã. A rivalidade entre os machos pelas fêmeas, era, em muitos aspectos, simbólica das paixões com que os próprios homens lutavam. Resgatar a face conífera do Deus é um resgate dos Mistérios Masculinos.

Já escrevia o grande mitólogo Joseph Campbell em seu trabalho “Primitive Mythology”:

“Para os primitivos povos caçadores, os animais selvagens eram manifestações do desconhecido. A fonte de perigo e sobrevivência foi associada psicologicamente à tarefa de compartilhar o mundo silvestre com esses seres. Ocorreu uma identificação inconsciente, que se manifestou nos místicos totens meio humanos, meio animais das antigas tribos. Os animais tornaram-se tutores da humanidade. Por meio de imitações, as naturezas separadas de humanos e animais foram derrubadas e criou-se a União. O mesmo é verdade acerca das posteriores comunidades agrícolas, que viram os ciclos de vida e morte dos humanos refletidos nos ciclos das colheitas”. 




O Green Man 

O Homem Verde, na mitologia céltica tinha os mesmos atributos de Cernunnos, sendo igualmente uma divindade que habitava as florestas. Deus dos bosques e animais, da renovação e da primavera, é representado por um homem com rosto de folhas verdes.

Green Man aparece em inúmeras igrejas góticas e castelos. Imagens semelhantes, misturando um semi-rosto humano com formas vegetais e folhas, ocorrem em muitas culturas.

Quando adentramos nas sombras da floresta mística, encontramos um rosto que olha fixamente para nós: o Green Man, mascarado com folhagens e galhos que formam seu rosto e saem de sua boca. O Green Man é um símbolo pré-cristão encontrado gravado na madeira e na pedra de templos e sepulturas pagãs, de igrejas e de catedrais medievais, e usado como ícone arquitetural da era Vitoriana, em uma área que se estende da Irlanda até o Leste da Rússia. Embora encontrado geralmente como um antigo símbolo celta, na verdade, suas origens e o significado original são encobertos no mistério. O nome data de 1939, quando a senhora Raglan (folclorista) encontra uma conexão entre as caras folhadas das igrejas inglesas e os contos do homem verde (ou “Jack, o verde”) do folclore irlandês.

Na mitologia céltica é o Deus da fertilidade, animais, amor físico, natureza, bosques, riqueza, comércio e dos guerreiros. Seu nome é pronunciado como se tivesse um "k": Kernunnos. Comumente representado por um homem sentado na posição de lótus, cabelo comprido e encaracolado, de barba, nu, usando apenas um torque (colar celta) no pescoço ou ainda por um homem de chifres, erroneamente comparado ao diabo cristão. Seus símbolos eram o veado, o carneiro, o touro e a serpente.

Ele é o Mestre da Colheita e de toda a Natureza cultivada. Está relacionado aos grãos e ao desenvolvimento da agricultura. É o dominador da vida e do crescimento das plantas. Ele é nossa parcela do sátiro que nos traz alegria, a felicidade. Esta associado aos excessos e ao êxtase provocado pelo vinho, tão sagrado pelas culturas primitivas.

O Deus assume vários papeis, principalmente o de Filho, e Amante da Deusa.

Diversas deidades ao longo da história humana representaram bem as características do Green Man.

Ele eventualmente tornou-se o popular deus do vinho e da alegria, e milagres do vinho eram reputadamente representados em certos festivais de teatro em sua homenagem. Dionísio também é caracterizado como uma divindade cujos mistérios inspiram a adoração ao êxtase e o culto às orgias. Estas celebrações frenéticas, que provavelmente se originaram com festivais primaveris, ocasionalmente, traziam libertinagem e intoxicações. Essa foi uma forma de adoração pela qual Dionísio tornou-se popular no séc. 11 a.C., na Itália, onde os mistérios dionisíacos eram chamados de Bacanália e, posteriormente, bacanais (os quais hoje, são sinônimo de orgias). As indulgências das Bacanálias se tornaram extremas e as celebrações foram proibidas pelo Senado romano em 186 a.C. Entretanto, no séc. I d.C., os mistérios dionisíacos eram ainda populares.
Sileno: O sátiro Sileno era um seguidor fiel de Dionísio. Gordo, feio e beberrão, Sileno era extremamente sábio e passou grande parte de sua sabedoria ao deus. Nos festejos, costumava estar bêbado demais e recebia ajuda de alguns sátiros, ou seguia no lombo de um asno. Seus homônimos, os silenos, eram seres com aspectos de sátiros. 


O Ancião 

O Ancião é a ultima das faces do Deus e personifica a fonte máxima do conhecimento. É o senhor da Magia e da Morte. É ele que conduz os espíritos dos homens a Summerland. Está relacionado ao princípios dos tempos quando tudo era “escuridão”. Conhece todos os segredos do Universo. Está relacionado ao renascimento e à ligação com os outros mundos. É a face ancião que reverenciamos em Samhain.

Grande Deus, Senhor dos Céus e pai de todos os deuses e dos homens.
Senhor da vida e da morte; deus da magia, da terra, do renascimento; mestre de todos os ofícios; senhor do conhecimento perfeito.

Possuía o caldeirão da abundância e da vida e uma harpa de carvalho vivo, que fazia com que as estações mudassem, quando assim o ordenasse.

Deus da proteção, dos guerreiros, do conhecimento, da magia, do fogo, da profecia, do tempo climático, do renascimento, das artes, da iniciação, do sol, das curas, da regeneração, da prosperidade, da abundância, da música e patrono dos sacerdotes.

Ele que é o Senhor de Dois Mundos, pois no ventre da Deusa (de volta), ele vive sua morte e a sua própria ressurreição.

Nessa época, com sua sabedoria infinita reconhecemos a importância da Morte como decorrência da vida. Segura em suas mãos o cajado, o elo de ligação entre a terra e o céu. Entre o sólido e o etéreo. Mede seus passos com o cuidado do conhecedor dos caminhos e de como podem ser traiçoeiros.

Devido ao aspecto idoso, é a personificação que representa o conhecimento de todos os mistérios que só a experiência pode proporcionais. É o Deus da Sabedoria, do bem e do mal não-absolutos. É a ele quem devemos recorrer e reverenciar nos momentos de dificuldade e anulação de qualquer tipo de malefício. Ele é o Deus da paz e do caos. Da harmonia e da desarmonia. O Ancião já passou pela jovialidade e energia do Cornífero, e pela maturidade, entusiasmo e força animal do Green Man. Acumulou toda a experiência que só o tempo pode proporcionar e distribuir a sabedoria por todo o mundo.

O Deus nos mostra os mistérios da morte e do resnacimento , o Deus é o oposto da deusa , como a luz e a escuridão . Sendo assim eles se completam .Na Religião Antiga, o Deus nasce da Grande Mãe, cresce, se torna adulto, apaixona-se pela Deusa Virgem, fazem amor; a Deusa fica grávida, o Deus morre no inverno (no fim dele) e renasce novamente, fechando o ciclo do renascimento, que coincide com os ciclos da natureza.

Para alguns, pode parecer meio incestuoso que o Deus seja filho e amante da Deusa, mas é preciso perceber o verdadeiro simbolismo do mito, pois do útero da Deusa todas as coisas vieram, e, para ele, tudo retornará. 


Quando no curso de nosso caminho - e isso demora até anos (mas vaira muito de pessoa para pessoa) - está na hora do Deus voltar, a própria Deusa nos mostra seu Filho, Consorte, Defensor, Ancião. O Deus aparece, tríplice como a Deusa.

Como a Deusa, Ele está na fome e no fim da fome, na vida e na doença terminal, na luz e na sombra, no que é bom para você e no que é mau... A Deusa nunca está só, ela tem sua contraparte masculina e, no entanto, Ele só existe por amor a Ela... alias, todos nós somos fruto dessa dança de amor. O Deus é o Ancião sábio, o distribuidor da Justiça, seja a que se impõe com sabedoria ou raios... Ele conhece os segredos dos oráculos, mas sabe que são Dela... ele é o repositório do conhecimento, mas a sabedoria é Dela... ele lê os sinais da natureza, mas sabe que quem os escreve é Ela.




Mas o sentido profundo do simbolismo na Bruxaria só pode ser verdadeiramente entendido através da meditação e do contato intuitivo com a energia dos Deuses 
Ele que é Pai, Filho, Bebê Iluminado, Amante Selvagem, Sábio Educador. Ele, o Deus que se revela apenas pela Deusa. 



14 comentários:

  1. Gostei do texto, sintetizou todo o conceito do aspecto divino pagão, e ressalta a importancia de se resgatar a verdadeira imagem do homem em harmonia com a natureza - o deus cornifero - algo q foi tão depreciado com a propaganda da falácia cristã!!
    Fabio

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    1. caro fabio

      agradecemos sua visita e seus comentários e estamos de acordo com tudo que escreveu.

      volte sempre
      selma/marcos

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  2. fora a imagem do Deus totalmente deturpada pela Cristandade! Hoje é mais q nosso dever tirar a máscara da mentirada toda lançada sobre o paganismo e bruxaria.
    Gerson

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    1. caro gerson

      antes de tudo nosso muito obrigado por sua visita e quanto ao seu comentário essa mascara que você diz se chama conhecimento e é isso que estamos tentando levar as pessoas que desconhecem por completo nossa história.

      estamos fazendo nossa parte
      selma/marcos

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  3. Gostei, sempre aprendo com seus posts....

    Abçs

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    1. Minha querida tem muito tempo que não aparece
      obrigada pelo seu retorno

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  4. Guauu, Selma! cada vez mais fabulosos sus post!
    Parabens!

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  5. Adoro o teu blog, os varios GIF's, é tudo muito bonito por aqui.

    Teológicamente sou Agnóstico ou Deísta ... creio apenas na existência de um Deus, de uma força criadora, contudo, não sigo religiões, credos ou doutrinas.

    Beijo[ta]

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  6. Boa noite Selma + uma vez agradeço a voce pela aula estou aprendendo muito . O conhecimento e a chave para a sabedoria realmente um completa o outro . Em todos os sentidos Adoro tudo que voce mostra e explica fica mais simples aprender boa noite !!!

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    1. meu mais novo amigo e fiel, sim fiel pq sempre esta presente e deixando os seus comentários
      eu tenho realmente que agradecer.
      obrigada por estar aqui.

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  7. Adorei o texto! Por curiosidade, de onde foi tirado aquele trecho no início da postagem?

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  8. Texto maravilhoso... Desconstruindo a demonização das crenças pagãs instauradas pelo cristianismo opressor.... Amei.... Viva a religião antiga.... Viva ao paganismo.... Viva a resistência e Glória ao Deus e a Deusa... BLESSED BE

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